segunda-feira, 12 de setembro de 2011


Me vi sem o nós numa sexta-feira depois do almoço
- alguma hora eu perceberia;
Disfarcei.

Novos termos, novas palavras, novos status;
Eu estático no ponto de ônibus esperando muitas outras coisas
(o benefício da troca, pelo menos)

Noites em aberto, em claro, em vômito, em nãos, em paredes de madeira quase cedendo, em   velas acesas que mostram o céu, em pequenos segredos sujos, em conversas sobre a história da loucura, em dramatizações de suicídios, em cantorias para a cidade, em migrações, em muretas vendo a ponte, o mar, as velas, os iates antigos que são boates, a um passo de uma ladeira virgem com uma placa de vende-se, lembrando das caminhadas em clarão artificial na madrugada de Nova Iorque hesitando em ir no novo bar ou garantir o de sempre, de olho nas motos que passavam mas principalmente na cerveja de daqui a pouco, amigos já bêbados também a caminho, flanelinha querendo dois adiantado, Léo tentando estacionar em três lugares impossíveis, mais uma antes de entrar;

A chuva parou e todo mundo resolveu sair nessa sexta de lua cheia e amarela e anunciei que ficaríamos ali no estacionamento à beira-mar comendo desesperadamente nossos hambúrgueres, batatas e por que não um sundae, até que ela tivesse completamente sumido por detrás do morro lá do outro lado, no continente, e a lua amarelo-sol se foi tão rápido que conseguimos acompanhar seu trajeto de menos de cinco minutos (“O mundo tá girando muito rápido” – alguém falou)

Vou aprendendo que viver é ser amargo com as coisas do passado e que os dias são fatos isolados, nada têm a ver uns com os outros
Ah, que grande mentira, que parte de mim realmente pensa isso?
A solidão máxima e plena que ainda não consegui dançar com mas vou respondendo que tá tudo bem e talvez até acredite nisso mesmo
Mas voltando de ônibus um cheiro de protetor solar me traz seu rosto com esse gosto e suas pintinhas e aquela foto com o papagaio e eu respiro devagar porque eu realmente amava tudo isso
Cada dia a mais será uma história que ficará guardada paralelamente às histórias denós e talvez estarão até o fim confrontando-se dentro de mim como o pai e a mãe no menino da Árvore da vida 
– será sempre uma espera.

domingo, 11 de setembro de 2011

pássaro preto

bom dia, amigo preto que voa
eu to no busão em pé com outras trinta pessoas que também usam fones de ouvido e pensam nos problemas que vêm toda manhã e nos que vão ter que resolver a tarde
é cedo, ainda não fedem, mas só porque tá um ventinho gelado insistem em deixar as janelas trancadas e isso me agonia desde a última febre da mídia mundial com a gripe A
que merda
mas você, amigo preto que voa, está voando de perfil e a velocidade do busão e a sua são tão semelhantes com esse engarrafamento todo que parece que estás parado no ar
mas não, suas asas batem forte, toda sua aerodinâmica muscular ossal trabalhando na coisa de um jeito lindo, cara
depois de dias a fio chovendo feito o dilúvio hoje abriu o sol pela segunda vez e realmente parece que todos meus problemas se foram
o sol e você, amigo
passando a ponte, vendo a ponta sul da ilha, o sol atrás de mim e uma grande bacia azul que acabará driblando tudo que é terra até ser mar de fato, Atlântico
você nem se preocupa com as coisas na verdade, meio voa meio plana e um companheiro seu vem atrás de você em disparada decerto para contar alguma boa nova, caiu o ditador da Síria, a tarifa diminuiu sem que estudantes fossem espancados, dez por cento do PIB pra educação, construíram afinal os estádios...
nada disso no seu mundo
prometa pelo menos ensinar seu companheiro a meio voar meio planar e realmente curtir a vida
 isso seria lindo